Sentidos...

Poesia, um idioma da percepção:"Mesmo no meio do nevoeiro, não é difícil constatar que também não sei fazer poesias." (Carlos Alberto Coelho)
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11 fevereiro, 2009


A rua dos cataventos
Mário de Andrade

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


*Deus separando a Luz das Trevas, detalhe, Teto da Capela Sistina, afresco de Michelangelo realizado entre os anos de 1508 e 1512

19 agosto, 2008


"As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se nao tomo cuidado será tarde demais:as coisas serão ditas sem eu as ter dito". (Clarice Lispector)

Sylvie Ricevuto, Aquarelle

22 fevereiro, 2008

Bocage

Levanta Alzira os olhos pudibunda
Bojudo fradalhão de larga venta

Lá quando em mim perder a humanidade

Esse disforme e rígido porraz

Arreitada donzela em fofo leito

Se tu visses, Josino, a minha amada

Cante a guerra quem for arrenegado
Ribeirada – poema de um só canto
Amar dentro do peito...


Bocage, Manuel Maria Barbosa du

Rastilho Ricardo Passos, Pintura. Acrilico 100 x 150 cm

15 outubro, 2007

PRIVILÉGIO DO MAR

Carlos Drummond de Andrade


Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial !

Podemos beber honradamente nossa cerveja.

09 setembro, 2007


Do poeta gaúcho, Sílvio Vasconcellos

O algoz de tuas melhores idéias
É o teu poderoso senso crítico
Que na lógica das centopéias
Tudo pisa com seu olhar analítico

Já o refém de teus pesadelos
É o medo de enfrentar tormentas
Mesmo que fuja para não tê-los
Prendem-te ao que lamentas

O vilão oculto de teus planos
Ronda sorrateiro tuas noites
Faz do certo teus enganos
E de carinhos rudes açoites

A vítima de tal mal-fadada sina
É a esperança que se desfaz
De encontrar a cada esquina
Refúgio tranqüilo de tua paz

Há ainda o juiz de teu gesto
Que a tudo pondera e resgata
Procura o equilíbrio indigesto
Entre o que agrada e destrata

Nesse cenário de grito e gargalhar
Moram os personagens de tua vida
Fazendo-te sorrir sem menos esperar
Ou chorar por cada perda contida

E no palco o que se encena
Para alguns é mera tragédia
Mas ao teu destino o que acena
Tem a força de ironia e comédia

Imagem:
Mirror Limbs - JoãoFigueiredo

19 junho, 2007

Mulheres que amo



Maria casou...
Alda Pereira Pinto


Maria casou com Antônio
mas, Maria ama João;
este é o marido da Lúcia<
que namora o Valadão.
A mulher do Valadão
conhecida por Raquel,
vive sempre nas paqueras
do compadre Manoel.
Do Manoel, companheira
é a dona Francisquinha,
senhora honesta e ordeira
que por obra do demônio,
sem que o queira, coitadinha,
vê no rosto da filhinha
os traços do "seu" Antônio.

Fonte: Mulheres que amo / Pedra viva, Editora Pongetti, 1972 - RJ, Brasil

10 maio, 2007

A Alma de Pessoa



É em Ti o mistério
No azul oculto
do
Etéreo,

Taça
dourada
do
Império,

Lírio,

Rosa da Ordem,

Flor Cósmica
de
Portugal.


in " De Camões a Pessoa, Viagem Iniciática",2005
Obra pictórica de Ellys.
Poesia de Maria Azenha

Do Arde o Azul